15 de jun. de 2010

... o que não foi vivido o que não foi sonhado o que não foi sentido está tudo lá numa caixa pequena embaixo da cama e à noite os cupins roem roem roem e em breve será pó que será varrido e depois jogado na lata de lixo que na manhã seguinte vai pro caminhão onde outra vez será triturado depois jogado num imenso lixão onde tudo queima fogo lento que nunca se apaga solo condenado onde não se edifica destinado a ser nada eternamente nada onde tudo queima meus olhos vermelhos mãos em carne viva tudo reciclado num poema sem verso sem rima sem ponto sem nó sem sentido onde tudo queima ainda assim poema do que não foi vivido do que não foi sonhado do que não foi sentido ...

9 de jun. de 2010

faço versos porque já morri
tanto e tantas vezes
mas não encontro o caminho de casa
onde era mesmo que eu morava?
no acaso me lanço
no espaço em branco longe dos apegos
flutuo
há uma curva no rio – havia mesmo um rio?
tinha botas de sol – ainda tenho pés?
há um lugar onde as almas se encontram
os corpos são frascos
tão frágeis...
há janelas que nunca se abriram
cortinas transparências
podia ouvir teu sopro
ao menos uma carta eu poderia ter escrito
na próxima esquina quem sabe
no próximo verso

7 de jun. de 2010

meu coração é um redil
de ovelhas loucas

contidas
por contornos tão frágeis

apascenta meu coração

(se me amas)
perdão senhor
não fui capaz de cumprir
teu maior mandamento

(amei tão pouco)

4 de jun. de 2010

as palavras mirraram
(ou foi a vida?)
ao contrário da fonte
que começa num fio
até se tornar caudaloso
rio

perene

fluíam
agora não fluem mais
intermitente espera
que venham as chuvas
ainda que não
estação

tenho um barco

3 de jun. de 2010

permeio entre mundos - e sub
deixo pedaços de mim por todo canto
trago pedaços de outros tantos
do mundo das formigas trago a terra na costas
do mundo das estrelas, o brilho nos olhos
do submundo o medo, a nóia, a faca
no meu pequeno mundo cabe o universo
onde em cacos me perco
e me refaço

1 de jun. de 2010

toque de sertão -
no meu chá inglês
com rapadura

(IX)