22 de nov. de 2010

inconsequente

faço poemas inconseqüentes
(já não me importo com isso)
tudo que espero do poema
é que ele se liberte
(que ele me liberte)
que ele liberte
[alguém
ao acaso
acaso exista ainda
[alguém
aprisionado
neste tempo absurdo
de liberdade extrema
[e solidão
absoluta
onde meus versos ousam
chegar

14 de set. de 2010

das fogueiras antigas
tudo o que resta são as cinzas

(se houvesse vento...)
pássaros antigos
cansados de voar se escondem

(e silenciam)
o rubro tom do sol nascente
agora fere os olhos

(a vida se põe)
disperso o bando
que um dia acreditei para sempre

(voaram penas)
ando pela cidade desfigurada
já não sei mais quem somos

(eu e a cidade)

15 de jun. de 2010

... o que não foi vivido o que não foi sonhado o que não foi sentido está tudo lá numa caixa pequena embaixo da cama e à noite os cupins roem roem roem e em breve será pó que será varrido e depois jogado na lata de lixo que na manhã seguinte vai pro caminhão onde outra vez será triturado depois jogado num imenso lixão onde tudo queima fogo lento que nunca se apaga solo condenado onde não se edifica destinado a ser nada eternamente nada onde tudo queima meus olhos vermelhos mãos em carne viva tudo reciclado num poema sem verso sem rima sem ponto sem nó sem sentido onde tudo queima ainda assim poema do que não foi vivido do que não foi sonhado do que não foi sentido ...

9 de jun. de 2010

faço versos porque já morri
tanto e tantas vezes
mas não encontro o caminho de casa
onde era mesmo que eu morava?
no acaso me lanço
no espaço em branco longe dos apegos
flutuo
há uma curva no rio – havia mesmo um rio?
tinha botas de sol – ainda tenho pés?
há um lugar onde as almas se encontram
os corpos são frascos
tão frágeis...
há janelas que nunca se abriram
cortinas transparências
podia ouvir teu sopro
ao menos uma carta eu poderia ter escrito
na próxima esquina quem sabe
no próximo verso

7 de jun. de 2010

meu coração é um redil
de ovelhas loucas

contidas
por contornos tão frágeis

apascenta meu coração

(se me amas)
perdão senhor
não fui capaz de cumprir
teu maior mandamento

(amei tão pouco)

4 de jun. de 2010

as palavras mirraram
(ou foi a vida?)
ao contrário da fonte
que começa num fio
até se tornar caudaloso
rio

perene

fluíam
agora não fluem mais
intermitente espera
que venham as chuvas
ainda que não
estação

tenho um barco

3 de jun. de 2010

permeio entre mundos - e sub
deixo pedaços de mim por todo canto
trago pedaços de outros tantos
do mundo das formigas trago a terra na costas
do mundo das estrelas, o brilho nos olhos
do submundo o medo, a nóia, a faca
no meu pequeno mundo cabe o universo
onde em cacos me perco
e me refaço

1 de jun. de 2010

toque de sertão -
no meu chá inglês
com rapadura

(IX)

28 de mai. de 2010

furtiva mente -
o balão lua cheia
escapuliu
tentei - voar em busca
da lua cheia

como sempre fiz
quando a lua é cheia

desta vez não pude

olhei-me no espelho -
já não tenho asas
desidrata o poema
em minha boca
chega em tons de verde
vivo
e logo se desmancha
há um sol dentro de mim
que teima
em nunca se pôr
um vento
que não cessa e sopra
a palavra seca
que cola
no papel feito casca
de ferida
(ou de árvore antiga)
minhas flores são cactos
solo arenoso
pontuado de pedras
tudo mais são delírios
imagens no espelho

(fantasia)
a água na chaleira ferve
é madrugada já
a erva é doce
a camomila nem tanto
tisana
de perfume suave
perfeita
para mentes distônicas
(talvez me adoce a alma...)
robótica
a mão apaga o fogo
os olhos pesam
(como o nada
é pesado...)
autômatos
os pés se arrastam
zumbi o corpo
se atira na cama
mergulho suicida
no vazio
onde as dores evaporam
até o amanhecer

(se...)

21 de mai. de 2010

estão mortos
todos os poemas
choro
por cada um deles
natimortos
renascem
a cada olhar atento
num ciclo
interminável
de renascimento
e morte

(X)
potes
de barro
somos

quem sabe
das águas
que contemos?

(IX)

13 de mai. de 2010

procuro no escuro – a palavra nova
tateio espaços
risco rasgo
não posso vê-las
tento tintas outras tons
texturas
na minha pele escrita
caneta tinteiro
mata borrão borracha
papel de arroz tão fino
requer cuidado.

(VIII)

9 de mai. de 2010

à minha frente - coisas
quase todas pretas
quase todas plásticas
branco o monitor
a dor antiga
que faz a mente branca
a alma já
não mora por aqui
a alma sente
o verso é delírio do olho
que observa
de mãos que tateiam
o som o som
salivas e suores
profanas as palavras
só no silêncio se toca
o céu
- davi me ensina
a santidade da canção

(VII)
o salmo
o sal
a mó
a mão
que move

que tudo
canta
e conta
no poema
que sinta
quem


(VI)

28 de abr. de 2010

halo de lua -
da espada de Jorge
puro reflexo

(V)
posso ler almas
pressinto
abismos precipícios
vôos suicidas
absintos
dores
sinto não queria
carrego as minhas
mais
não precisava
preciso
é o elo sensitivo sexto
o mais
aguçado dos nossos
mínimos
múltiplos comuns
sentidos

(IV)

26 de abr. de 2010

rosa-flor
floresceu sem cor

o vale declina

queixumes ecoam
signos

que a cidade baniu

planícies vazias
sem

a ilusão dos cumes

no vaso sobre a mesa
hidropônica flor

(III)
nômades
querubins sibilam

gregorianos cantos

sob picos nevados
pairam

e observam

matilhas
no inventário dos lobos

na disputa dos restos

(II)

24 de abr. de 2010

como criar
criar o que
tirar de onde
dizer o que
já tudo dito
tudo sentido
tudo tão velho
tão antigo

palavra nova
onde?
talvez
no sub solo
do ser
tão árido

...

23 de abr. de 2010

onde
a beleza
senão
nos olhos
que moram
no meio
da minha
cara
que mora
no alto
da minha
carne
a casa
onde moro

...

22 de abr. de 2010

claro
como todos os enigmas
te decifro
olha
nos meus olhos e tenta
me de_cifrar

...
quero ser leve
e simples

como uma folha
ou uma flor

quero um amor assim
- me sopra?
taturana caminha
sob a pele
que queima
- e coça
entre dor e delícia
o sentir se situa
é o bicho
- de fogo
preto no branco
os dias se repetem
no calendário
em frente
aos nossos olhos

vermelhos

domingos se destacam
festas
profanas e sacras
herege o tempo
ri de tudo e passa

...
quero um lugar
só meu
este lugar é aqui
este lugar nenhum
nenhum lugar
é onde
é onde não estou
neste lugar eu sou

...